top of page
Fundo das páginas.png

Quando a consulta é uma necessidade

Mapa Astral 3D.png

Quando a maioria das pessoas atravessa fases de forte pressão interior, de uma ou outra forma acaba por sentir a necessidade de procurar algum tipo de aconselhamento, no sentido de encontrar algo que justifique as penas da sua existência. Contudo, muitas vezes não se apercebe que o nível das suas preocupações, nessa fase, é definido por questões ligadas a um passado com origens em raízes familiares, que se vai transmitindo de geração para geração como um estigma. A tensão interior que é sentida manifesta-se num estado de ansiedade e quebra de energia, e é muitas vezes acrescida da ausência de percepção das causas que conduziram à “colheita dos frutos” de “suas escolhas” num passado distante.

          apesar de tais preocupações só ganharem 

          relevo através de crises cíclicas, que de resto 

          fazem parte do percurso de vida do ser humano comum, não obstante a diversidade
dessas manifestações, as suas consequências mais profundas acabam por serem enfrentadas de duas formas básicas. Por um lado, pode acontecer que
a pessoa envolvida procure somente respostas de modo a poder repor a capacidade de dar satisfação às suas necessidades emocionais e de segurança mais imediatas. O problema desta postura é que pode acabar por ignorar os significados mais profundos do que possa estar a acontecer-lhe,
e que provavelmente poderiam constituir uma oportunidade para começar a encarar essas mesmas necessidades de uma forma mais consciente
e desprendida. Isto é, sem dependências.

Poderia, assim, começar a desenvolver uma atitude que a tornariam menos receosa face à vida e, portanto, mais livre na demanda da realização dos seus propósitos pessoais mais nobres. Por outro lado e por justa oposição, pode acontecer que as crises acabem por ser enfrentadas numa postura
de negação do “berço” que lhe deu as origens, por considerá-lo um estorvo para o que acha importante para se sentir segura. Nestas fases, alguns acabam enredados na aparência do que para eles parece constituir uma “prisão” e abandonam pessoas
ou situações renegando laços familiares, sem compreender que nada mais fazem do que fugir deles próprios. Claro que é discutível o momento “certo” para se levar à rotura de uma certa experiência que esteja a sufocar os participantes.

E como é que se pode ajuizar acerca de uma experiência mal vivida, para que se adquira a percepção de que aquela mesma experiência já não tem nada para ensinar? Creio, que tanto a primeira quanto a segunda postura são inconvenientes e, portanto, desfavoráveis. A referência ao “desprendimento das necessidades emocionais”, para que não haja mal entendidos, quer dizer somente libertação da dependência dessas mesmas necessidades, embora num certo sentido nenhum ser humano possa desligar-se totalmente de suas raízes e consequentes laços que o prendem a um passado que gerou a base da sua experiência individual. No entanto, o modo como ele faz
a gestão das marcas ou feridas desse passado,
e a força interior que lhe poderá dar o impulso
para se tornar um ser individual, é que determinará a postura que irá fazer a diferença no futuro.

O passado é importante, na medida em que nos fornece os dados necessários para a compreensão do “molde” de que somos feitos. Não pode nem deve ser renegado, sob pena de perdermos a noção de que pertencemos a algo. Mas, a dependência
do que constitui esse passado com as suas tramas de família, códigos e regras de conduta e moral pode acabar por se tornar, isso sim, num verdadeiro estorvo ao avanço da consciência na medida em que os valores estão circunscritos às malhas de tão intrincado organismo.

 

E, uma vez contestados esses valores, pelo elemento que tenha a ousadia de pôr em causa os “hábitos” da família, por vezes, a excomunhão é o preço a pagar por esse elemento que se tornou “indesejável” na sua conduta. Contudo, é inevitável que uma dada família num dado momento do percurso da história dessa família, acabe por

“produzir” um membro que irá desafiar os modelos do clã familiar, que na maioria dos casos age por compulsão inconsciente. Se assim não acontecesse, as tramas e esquemas tornar-se-iam perpétuos impedindo a subida de nível da consciência dos seus componentes. Não basta nascer e viver para ter de, inevitavelmente, acabar por morrer. Creio, que um dos temas importantes da história de nossas vidas é o desenvolvimento da capacidade da auto-nutrição e valorização pessoal, que com o tempo nos torna mais íntegros e capazes de levar por diante a “obra”, ou destino, se assim lhe quisermos chamar. Amarras e dependências são do domínio
da Lua no horóscopo pessoal.

 

A tentativa de suplantar essas tramas são do domínio solar. Ignorar um dos lados em proveito
do outro conduz fatalmente a um estado de divisão e cisão interna que só nos torna mais frágeis. Alguém que não sei o nome, escreveu que uma postura ideal de vida poderia ser – “Viver o presente, com base na experiência do passado,
e os olhos postos no futuro”. Eu posso acrescentar que a experiência do passado só se pode tornar útil no futuro se aceite e compreendida nos seus propósitos mais profundos. As recordações de família que tanto valorizamos no bom ou mau sentido, são a manifestação e projecção de um complexo organismo, a família.

 

Compreender os mecanismos que estão por detrás dessas manifestações e desmontá-los na sua estrutura, pode ajudar-nos a esclarecer o porquê das nossas tendências, para mais tarde tentarmos um outro tipo de união familiar – a interior – de modo a que o Sol e a Lua em nós, enquanto símbolos arquetípicos dos princípos masculino
e feminino respetivamente, se possam finalmente manifestar em cooperação. São dois princípios
que não deveriam coexistir dissociados. Mas,
como somos seres imperfeitos, creio ser de bom senso continuarmos a considerar a possibilidade
de oportunidades futuras em termos de crescimento pessoal. Porque, se assim for, significa a existência de algum tipo de auto-valorização e amor próprio, que deixa pressupor alguma auto-condescendência, sem ter que necessariamente acabar em auto-indulgência.


Pois, da possível harmonia entre o Sol e a Lua,
pode também resultar a noção de um sentido
para a existência, e a vontade de continuar independentemente das dificuldades que se encontrem pelos caminhos da vida.

E

Saramago

© Copyright
bottom of page